Brazil: 'População homossexual Brasileira sofreu e ainda sofre um massacre', diz João Silvério Trevisan

Em 73 anos de vida, João Silvério Trevisanescreveu 13 livros de ficção e não ficção, dirigiu um filme proibido pela ditadura militar, recebeu três Jabutis, fundou o Somos, primeiro grupo de liberação homossexual no Brasil, e o “Lampião da Esquina”, primeiro jornal voltado para a comunidade LGBT. Antes do ativista e do autor premiado, no entanto, houve a criança desamparada no interior de São Paulo, atormentada por um pai preconceituoso e cruel. Mesmo perseguido toda existência por essa figura, só agora Trevisan conseguiu revisitá-la de frente.

Em “Pai, pai”, seu mais novo livro, ele faz um trabalho de arqueologia sentimental, em que pouco a pouco vai escavando memórias e ressignificando eventos traumáticos à luz do dia. São feridas ainda abertas, como um pai que joga no rio o filho de 9 anos que não sabe nadar, para que ele aprenda “a ser homem”; o abuso sexual na infância por um pintor de paredes mais velho; ou muitas outras torturas psicológicas sofridas por causa de sua homossexualidade.

Nesse “inventário de fantasmagorias”, ele se arrisca no maior dos desafios: reconstruir e compreender o personagem do pai, morto em 1997, e descobrir, em si mesmo, uma antes impossível brecha para o perdão.

Em “Pai, pai”, você escreve que há rastros de figura paterna em todas as suas obras. Só agora, porém, você fala direta e abertamente de seu pai num relato não ficcional. Por quê?

Foi um movimento natural da minha maturidade, de encarar essa questão tão crucial na minha vida, mesmo que eu não me desse conta disso. Se você olhar o início do livro, há uma ponta de dor quase rancorosa, que vai aos poucos se desfazendo. A primeira frase do livro é muito dura e muito verdadeira: “Tudo que meu pai me deu foi um espermatozoide”. E no decorrer do livro, o processo vai ocorrendo, acho que aos olhos do leitor assim como ele foi ocorreu para mim. Escrever esse livro quase equivaleu a dez anos de psicanálise. Read more via oglobo

 


For 73 years, João Silvério Trevisan wrote 13 books of fiction and nonfiction, directed a banned film by the military dictatorship, founded the We are the first group of gay liberation in Brazil, and the "Lantern Corner " the first newspaper for the LGBT community. Before the activist and award-winning author, however, was the helpless child in São Paulo, plagued by a prejudiced and cruel father.  In "Father, father," his latest book, he makes a sentimental archeology work, where little by little digging memories and giving new meaning to traumatic events in daylight.